O território indígena tradicional irá celebrar nos dias 13 e 14 de março de 2020 seus 50 anos de resistência e luta em defesa do povo indígena. Leia a reportagem completa e saiba como você também pode contribuir para a realização desse evento histórico.

Há 50 anos, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, o povo indígena mbya guarani se instalou no território que hoje é conhecido como Aldeia Boa Vista, localizada no bairro Prumirim. Todas essas décadas foram marcadas por muitas lutas para que pudessem permanecer neste território e seguir a continuidade da língua, da cultura, da religião e de todos os conhecimentos sagrados para o povo guarani. Com a finalidade de celebrar os 50 anos, a comunidade organiza nos dias 13 e 14 de março uma grande festa com o tema “Resistência e reconhecimento territorial”.
"Para nós essa festa representa um contexto muito importante para a vida e para a família guarani. Temos três pessoas na comunidade que ainda são remanescentes dos fundadores da aldeia e temos também as novas gerações. Queremos mostrar pra nossa família, para a juventude, que após muitas lutas conseguimos parte da estrutura que atende a aldeia. Nossa escola, a equipe de saúde, a SESAI. Queremos fazer essa festa relembrando a nossa luta, fortalecendo a importância da vida guarani porque a terra representa a continuidade da nossa língua, dos nossos costumes", Marcos Tupã, coordenador nacional da Comissão Guarani Yvurupá e liderança da aldeia Boa Vista.
O evento é uma realização da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), da Associação Indígena Tembiguai e conta com o apoio da Prefeitura de Ubatuba, por meio da Fundação de Arte e Cultura (Fundart), Funai, PROAC/SP, Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS/Fiocruz) e Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba (FCT). A programação inclui diversas atividades como pintura corporal, canto e danças indígenas, rodas de conversas com o cacique Altino Wera Mirim e remanescentes sobre a caminhada sagrada que levou à fundação da aldeia e sobre o contexto atual, café da manhã e almoço típicos, exibição de documentário
Cultura guarani que resiste
"Nós, o povo guarani, povo que resiste, povo de luta, e que nesse pleno 2020, mantemos nossa tradição, falamos nossa língua, mantemos nosso conhecimentos tradicionais sobre as ervas medicinais, nossa cultura, nossa religião. Toda a questão do meio ambiente e da proteção das florestas é muito importante nós. Temos que estar onde tem floresta, onde tem mata, porque é lá que cultuamos a vida, o conhecimento e os saberes tradicionais, precisamos que a floresta tenha recursos naturais como rio, pesca, material de artesanato, área para plantar, tudo isso faz parte da vida guarani", ressalta Marcos Tupã.
Segundo ele, todo o contexto de luta e resistência guarani fez com que a comunidade quisesse fazer esse convite ao público, aos moradores da cidade, da região, para conhecer mais a cultura desse povo. "Fazer com que as pessoas nos conheçam profundamente é importante pra vida guarani. Muita gente fala sobre os indígenas do passado, ou os indígenas que estão na amazônia. Só que não é assim, estamos em todo o território nacional, temos os mbyá guarani, tem os ava guarani, guarani kaiowá, somos pertencentes a língua do tronco tupi guarani e que dentro desse povo, conseguimos nos comunicar com os demais guarani", completa.
Você também pode contribuir com essa grande celebração: Para a festa ser ainda mais forte e bonita, a organização está arrecandando doações em valores e quantias voluntárias. Todo apoio é bem vindo. Seguem os dados da conta para depósito do cacique Altino:
Altino dos Santos Banco do Brasil Ag 2748-0 C/c 23.439-7 CPF: 083.337.408-71
Sobre a festa
Data: 13 e 14 de março de 2020, das 8h30 às 18h
Local: Aldeia Boa Vista, localizada no KM 29,5 da BR 101 (subir 1,5km de estrada de terra)
Entrada é R$ 10,00 - incluindo a alimentação, a pintura facial e apresentações culturais.
*Haverá arte e artesanato indígena à venda
**Levar cangas, esteiras, lanternas, copo, prato e talher, repelente e maiô em caso de visita na cachoeira (permitida apenas com monitores da comunidade).
Programação completa:
Sexta-feira, 13 de março de 2020
08h30 às 09h30 – Café da manhã típico
09h30 às 10h – Pintura corporal, sob coordenação de Mirim Valdeci, Adelino Mimbi e Alex Karai
10h às 10h20 – Abertura – Canto e dança Nhamandu Nhemompu’ã, sob coordenação Ailton Wera
10h20 às 11h – Roda de conversa com os anfitriões, Cacique Altino Wera Mirim, Dona Santa Rosa da Silva e Dona Jandira Rosa Paraguassu, remanescentes fundadores da Boa Vista, sobre a caminhada sagrada, instalação da aldeia e luta pelo reconhecimento do território em 1987
11h às 11h30- Leitura da carta dos jovens da aldeia em homenagem ao cacique Altino Wera Mirim, a Dona Santa Rosa da Silva, a Dona Jandira Rosa Paraguassu e ao Prof José Roberto da Silva, primeiro indígena nascido na Boa Vista.
11h30 às 12h30 – Roda de conversa sobre o contexto atual e os ataques e perda de direitos na política indigenista no Brasil, com Marcos Tupã e demais lideranças e autoridades presentes
12h30 – Intervalo para o almoço típico guarani
14h30 às 14h50 – Apresentação do grupo de canto e dança Yyakã Porã, sob coordenação de Ivanildes Kerexu e Kuaray Alexandre.
15h às 15h30 – Mostra do documentário guarani “Jaguata Porã”, sobre a caminhada sagrada e história da Boa Vista, sob coordenação Kuaray Alexandro
15h30 às 16h – Dança Tangará, com os grupos Xondaro Mirim Mborai, Nhamandu Nhemompu’ã
16h às 16h40 – Dança Xondaro com os grupos Xondaro Mirim Mborai, Nhamandu Mhemopi’ã e Yyakã Porã
17h às 17h30 – Canto e dança dos grupos e participante todos juntos para confraternização e degustação do Bolo de comemoração feito pelas confeiteiras da aldeia e apoiadores
18h – Encerramento do primeiro dia
Sábado, 14 de março de 2020 – Dia dos festivais da cultura guarani
08h30 às 09h30 – Café da manhã, cozinha coletiva
09h30 às 10h – Pintura corporal, sob coordenação de Mirim Valdeci, Adelino Mimbi e Alex Karai
10h às 10h20 – Abertura com apresentação do grupo de canto e dança Xondaro Mirim Mborai
10h30 às 10h40 – Composição da mesa de anciões da comissão julgadora do festival
10:50 às 12h30 – Primeira etapa do festival Xondaro
12h40 – Intervalo para o almoço típico guarani
14h30 – Composição da mesa de anciões para a segunda etapa do festival: Chicha Kaguyjy, bebida feito de fubá e canjica
15h às 15h45 – Festival de Rora, comida típica feita de milho ou fubá
16h às 16h20 – Ritual de agradecimento com participação dos convidados
16h30 – Falas de agradecimento da organização, parceiros e apoiadores
17h – Encerramento

Texto: Vanessa Cancian/ Comunicação Popular FCT
Foto: Ong Eco Vital
Cartaz: Fundart