Rede Nhandereko promove partilha de TBC na aldeia Itaxim
Chamado “Nas Raízes da Resistência”, encontro retomou as atividades da Rede em um encontro de fortalecimento do turismo de base comunitária junto ao povo guarani.
Entre os diversos territórios que se estendem pelos municípios de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, a Rede Nhandereko - rede de turismo de base comunitária (TBC) do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) – deu mais um passo em busca de ampliar o protagonismo e a autonomia das comunidades que promovem o TBC em seus territórios.
“Nas raízes da resistência - a cultura e a história do povo Guarani Mbya como inspiração no trabalho da Rede Nhandereko” foi o nome da partilha realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro na aldeia Itaxim, em Paraty Mirim (Paraty-RJ). Essa atividade integrou a finalização de um projeto em parceria com a Área de Proteção Ambiental (APA) do Cairuçu, do ICMBio, e contou com o apoio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), da Associação de Moradores do Quilombo do Campinho (Amoqc) e da aldeia Itaxim.
“O projeto foi elaborado em conjunto pela equipe da APA Cairuçu e da Rede Nhandereko para atender a um edital do Instituto Chico Mendes, conduzido pela Coordenação Geral de Populações Tradicionais, com recursos do PNUD. O edital visava apoiar e fortalecer o TBC em Unidades de Conservação Federais”, conta Carlos Felipe Abirached, analista ambiental da APA Cairuçu que acompanhou o projeto.
Segundo ele, a iniciativa vem apoiando, desde o início de 2018, as ações de mobilização, formação, planejamento, organização e intercâmbio entre as comunidades tradicionais que integram a Rede Nhandereko. As partilhas realizadas na comunidade caiçara do Sono e na aldeia Itaxim, diz, também contribuíram para fortalecer os propósitos e princípios da Rede Nhandereko, articulando outras comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras.
“Nós mostramos a nossa força, conscientes de que uma só pessoa não é nada. Precisamos estar sempre unidos”, destacou Eva Benite, liderança indígena da aldeia Itaxim. Segundo ela, houve muita escuta, conversa e trocas. “Foi ótimo que, ao final, cada um foi falando o que achou e sentiu. A partilha foi de grande aprendizado para nós guarani porque nós, algumas vezes, não entendemos tudo que os brancos falam e pudemos conversar bastante”, completa.
Nas raízes da resistência
Com a proposta de se abastecer na fonte de sabedoria que é o povo indígena, a partilha teve como objetivo retomar os processos da Rede Nhandereko. A programação do dia 11 contou com uma vivência do roteiro da comunidade guarani, que inclui rodas de conversa, passeio pela aldeia, banho de cachoeira, oficina de artesanato e visita à roça agroecológica.
“Durante o dia 12, vivemos um momento de retomada das ações da Rede, com a consolidação entre as comunidades que estão chegando e a apresentação do papel e dos objetivos da Rede Nhandereko”, conta Erika Braz, colaboradora do coletivo que coordena a Rede. “Tivemos uma grande participação do povo indígena e elas puderam conhecer melhor essa articulação, seu histórico e suas propostas nos territórios”, diz.
“Acredito que todos ali ficaram muito mexidos com a forma que a cultura e o povo guarani vêm resistindo todo esse tempo. Pudemos sentir que a luta e a resistência deles está muito interiorizada”, conta Érika sobre a partilha, que proporcionou grande mergulho na cultura Guarani Mbya.
“Essa partilha foi importante para que os indígenas de Itaxim pudessem ampliar seu entendimento sobre os princípios, a organização e a execução do turismo de base comunitária em uma Terra Indígena, podendo, inclusive, debater aspectos étnico-culturais específicos, considerando a singularidade da cultura guarani”, completa Carlos Felipe.
Rede Nhandereko
“A Rede Nhandereko vem desenvolvendo o projeto do TBC, fortalecendo a identidade Cultural, a permanência dos povos tradicionais no seu território com qualidade de vida, geração de renda e valorização da cultura”, relata Vaguinho de São Gonçalo, que integra a coordenação da Rede.
“O turismo de base comunitária que acreditamos caminha junto da preservação ambiental, agroecologia, saneamento ecológico, economia solidária, autogestão, formação, governança, fortalecimento das associações de moradores, educação diferenciada, estruturas dos roteiros, planejamento. Além disso, a importância de ocuparmos espaços de participação nos conselhos de turismo dos municípios e no Conselho da Apa Cairuçu (Conapa) também foram assuntos debatidos”, salienta a liderança caiçara.
“O TBC constitui uma das quatro ações prioritárias definidas no novo Plano de Manejo da APA Cairuçu e integra o Plano de Ação do Conselho Gestor da Unidade desde 2015. Ao mesmo tempo, constitui uma das agendas prioritárias do Fórum de Comunidades Tradicionais”, complementa Carlos Felipe Abirached.
Juventudes e crianças presentes
Mais uma vez, a partilha convidou arte-educadores para realizar atividades com as crianças vindas de fora e, principalmente, com as crianças da aldeia durante os momentos em que os mais velhos estiveram em reunião. “As crianças tiveram o cuidado de duas pessoas e, junto com o pessoal, puderam fazer as brincadeiras como antigamente”, destacou Eva sobre a importância do cuidado com a infância nas comunidades.
Texto: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian
Fotos: Comunicação Popular FCT - Eduardo Napoli
Editoração Eletrônica: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian