Educação diferenciada foi tema de Audiência Pública em Paraty
Comunidades tradicionais se mobilizam e levantam demandas por uma educação diferenciada que contemple o modo de vida tradicional e que fomente a garantia do território
Com o tema “Educação Escolar” nas comunidades tradicionais, a audiência pública organizada pelo Ministério Público Federal (MFP) aconteceu no dia 8 de novembro na casa da Cultura de Paraty. Apesar da forte chuva que havia atingido a região e que inviabilizou a chegada de diversas comunidades, o espaço se encheu com representantes dos povos caiçaras e quilombolas e indígenas que pautaram demandas para a educação diferenciada nas comunidades e que integram também o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT).
A forte chuva que caiu no dia anterior a audiência veio para mostrar também a dificuldade enfrentada pelas crianças e jovens para chegar até as escolas. Devido ao temporal, o acesso pelas estradas ou de barco impediu que comunidades como a aldeia Itaxim (paraty mirim) e caiçaras do Mamanguá pudessem chegar. Esse ocorrido fez com que ficasse ainda mais evidente a necessidade de escolas dentro das comunidades.
“Assim como não conseguimos ir hoje na reunião, nossos filhos não conseguem estudar”, relataram via áudios de whatsapp aqueles que não conseguiram chegar. E é assim o cotidiano das crianças e jovens que não conseguem estudar porque precisam se deslocar de locais com difícil acesso.
“Ficou evidente para o MPF que se até em uma audiência pública os adultos não conseguem vir por conta da chuva, imagina a dificuldade das crianças para poder estudar fora da comunidade”, alerta Francisco Xavier, conhecido como Ticote. Ele é liderança caiçara do Pouso da Cajaíba e integra o Coletivo de Educação Diferenciada.
Educação diferenciada unificando a luta
“Conseguimos ver a força do movimento pela educação. todo aquele povo que esteve presente está acreditando na necessidade de uma educação de qualidade”, relata Ticote. “Ver mais comunidades chegando junto, acreditando na causa foi lindo. Penso que a educação deva ser construída dentro da comunidade e não fora dela”, completa.
“O Coletivo de Educação Diferenciada sempre tem lutado pela garantia dessa educação no município. E, no final do ano passado e começo desse ano estávamos preocupados com a necessidade da implementação do segundo segmento nas comunidades do Sono e do Pouso da Cajaíba. Fizemos o dossiê da educação diferenciada que foi um documento fazendo uma análise sobre o que avançou nessa área”, contextualiza Indira Alves França, colaboradora do OTSS/Fiocruz.
Segundo segmento nas comunidades da costeira
A demanda mais importante apresentada pelas comunidades tradicionais presentes foi a necessidade urgente do segundo segmento diferenciado nas comunidades da costeira. Nesses locais em que o acesso é ainda mais difícil, a evasão escolar se torna altíssima com o passar do tempo.
As comunidades estão em luta para que cada local possua educação que contemple as culturas tradicionais e aproxime a escola e o currículo do cotidiano das famílias nos diversos território. “A comunidade de Trindade, ainda que o acesso à cidade seja mais facilitado, as lideranças também estão na luta por uma escola de segundo segmento que leve em conta o modo de vida tradicional caiçara. Também pontuaram as mesmas demandas o quilombo do Campinho que luta pela educação quilombola”, conta Indira Alves França.
O poder público
Segundo informações do Coletivo de Educação Diferenciada, a resposta da Secretaria Municipal de Educação sinalizou que não poderá resolver imediatamente as questões solicitadas pelas comunidades, mas afirmou que vai encaminhar as demandas por meio da criação de grupo de trabalho com representantes das comunidades para dar os devidos encaminhamentos.
Texto: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian
Fotos: Eduardo Napoli
Editoração Eletrônica: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian