Protagonismo das juventudes e das mestras, pajés e griôs marcam o encontro Ampliado do FCT
Realizado de 19 a 22 de setembro, o encontro aconteceu no restaurante do quilombo do campinho e reuniu mais de 100 lideranças comunitárias
Quantas lutas cabem em uma história? Quanta diversidade cultural existe nos saberes dos povos indígenas, caiçaras e quilombolas que estão lutando em defesa de seus territórios? O encontro ampliado do Fórum de Comunidades Tradicionais aconteceu de 19 a 22 de setembro e reuniu cerca de 100 comunitários dos três municípios e parceiros de diversos lugares na construção coletiva de ações do movimento social nos diversos territórios.
A atividade teve duração de quatro dias com reuniões, vivências, plenárias, atividades culturais e muita partilha de saberes. Apoiado pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina e pela Associação de moradores do Quilombo do Campinho (Amoqc). O primeiro dia de evento foi direcionado somente aos povos e comunidades tradicionais indígenas, caiçaras e quilombolas de angra dos reis, Paraty e Ubatuba.
“Pudemos ver os caciques guarani mbya (Agostinho, Altino, Demércio) participando e fortalecendo a luta conosco, nossas referências. Além disso, os jovens participaram em todos os sentidos, eles estão se interessando para poder acompanhar a luta dos mais velhos e aprendendo na prática”, pontua Julio Karai Xiju, liderança da aldeia Sapukai de Angra dos Reis e do FCT. Segundo ele, encontro proporcionou o intenso intercâmbio entre as gerações que estão nessa caminhada, inspirando os mais novos e consolidando a trajetória dos mais velhos.
Sobre os números e dimensão dos participantes, Vagner do Nascimento, coordenador geral do FCT e do OTSS aponta que a expectativa foi superada em todos os sentidos. “A participação dos comunitários no encontro foi grande em todos os três municípios e de todas as etnias, mulheres, homens, juventudes, crianças, mais velhos. Vimos muitas comunidades se aproximando e isso é fundamental”, completa.
Vivências: partilhando saberes e histórias de luta
No segundo dia, as comunitárias, comunitários e parceiros do FCT partiram pra vivências em diferentes comunidades e temáticas. O tema do turismo de base comunitária (TBC) aconteceu no próprio quilombo do campinho, local que promove essa prática há muitos anos e possui um roteiro consolidado, recebendo grupos de diversas partes do Brasil e do mundo.
A agroecologia foi tema da vivência que ocorreu na aldeia Itaxim em Paraty Mirim. Os participantes puderam conhecer o roçado agroecológico e em mutirão realizar um plantio organizado pelo povo guarani mbya dessa comunidade.
Trindade foi palco da educação diferenciada. Recebidos na escola do mar, um rancho caiçara construído pela comunidade em parceria com a comunidade local, o grupo presente nessa vivência pode mergulhar na luta pela educação diferenciada. As crianças da escola municipal da localidade foram até a Escola do Mar fazer uma oficina de costura de rede de pesca com mestres pescadores e na parte da tarde, a AMOT recebeu os participantes para uma reunião do Coletivo de Educação Diferenciada.
“Nós optamos por organizar vivências durante por conta de um processo gerado pela escuta das nossas últimas reuniões em que estávamos fazendo sempre atividades de debates, planejamento e o nosso povo pedindo que a reunião fosse mais prática, com atividades em campo, colocar a mão na massa”, pontua Vagner do Nascimento, coordenador geral do FCT e do OTSS. Segundo ele, a inspiração para esse modelo de organização partiu também do último Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que teve a participação de uma delegação do FCT.
Feira Cultural “Saberes e Sabores”
A luta pela soberania alimentar e pela garantia da alimentação agroecológica ficou evidenciada na feira “Saberes e Sabores”. Com a benção de Nhanderu (o grande criador na cultura guarani), das griôs do Campinho e dos mestres caiçaras presentes, as mudas e sementes crioulas foram trocadas e mais do que isso, tiveram suas histórias compartilhadas durante o momento da troca.
No barracão, agricultoras e agricultores do campinho e de outras comunidades e projetos agroecológicos puderam expor seus produtos. “Foi positivo ver pessoas que nunca tinham participado expondo seus produtos, deu para pegarmos experiência e ouvimos palavras positivas dos que vieram de fora. Acreditamos que sempre é muito bom fortalecer a agroecologia da região e queremos abrir a casa para as pessoas somarem, conta Ana Cláudia Martins, agricultora do Quilombo do Campinho e uma das responsáveis pelo barracão agroecológico na feira.
Mulheres e juventudes protagonizam o encontro
A participação das mulheres do FCT e parceiras de luta nesse encontro mais uma vez mostrou que a luta é um substantivo feminino. Dentro das mais diversas frentes de atuação e também no Núcleo Jovem do FCT, a presença feminina evidenciou a necessidade de políticas de gênero dentro e fora dos movimentos sociais.
Mobilizadas pelo momento político atual que o Brasil atravessa, as mulheres fizeram um ato pela campanha #elenão, como forma de marcar presença nesse espaço político e enfrentar o racismo, machismo, homofobia e todas as demais barbáries desse candidato a presidência da república.
Texto: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian
Fotos: Eduardo Napoli/ Cristiano Braga/ Santiago Bernardes/ Vanessa Cancian
Editoração Eletrônica: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian