A identidade cultural e realidade dos povos e comunidades tradicionais localizadas na Costa Verde fundamenta o turismo de base comunitária
A construção de uma nova lógica do turismo pautado pelo protagonismo de caiçaras, indígenas e quilombolas, em um território disputado pela especulação imobiliária em que convivem diferentes propostas de desenvolvimento é o principal desafio da Rede Nhandereko de turismo de base comunitária - TBC. O movimento do TBC se fortalece no território, sobretudo, pela valorização da identidade cultural das comunidades envolvidas na Rede.
Essa iniciativa criada por meio da articulação do Fórum de Comunidades Tradicionais promoveu nos dias 5 e 6 de dezembro a última oficina do ano. O evento aconteceu no restaurante do quilombo do Campínho em Paraty, viabilizado pela Associação de Moradores do Quilombo do Campinho (Amoqc) e outros parceiros e apoiadores mobilizados ao longo do ano de 2016.
Durante o primeiro dia de atividade cerca de 30 comunitários e parceiros vivenciaram o roteiro do quilombo. Os presentes puderam experimentar a oficina de cestaria, conhecer mais sobre a história da comunidade com a roda de conversa com a griô - que geralmente recebe os visitantes - e experimentar a culinária quilombola. No segundo dia as atividades foram voltadas para a discussão e alinhamento coletivo sobre os princípios e conceitos que irão guiar as ações da Rede.
A oficina foi realizada com recursos de um pequeno projeto apoiado pelo DESAFIO BIG, cujo objetivo é ampliar a sustentabilidade na Baía da Ilha Grande, e contou com a participação de outros parceiros como a Secretaria de Turismo de Paraty, do ICMBIO/APA Cairuçu, do projeto Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS/FIOCRUZ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
O que é a Rede Nhandereko?
“Somos uma rede de empreendimentos turísticos ligados ao Fórum de Comunidades Tradicionais e protagonistas de uma forma de turismo sustentável que não interfira em nossos modos de vidas, com o objetivo de gerar renda mantendo a cultura e a tradição e passar os conhecimentos para nossas novas gerações, proporcionando conhecimento aos visitantes relacionados ao nosso modo de vida”, pontuou Ariane do quilombo do Campinho.
No segundo dia de oficina os comunitários revisitaram os objetivos da rede, levantaram e priorizaram propostas para definir o que a Rede Nhandereko pretende enquanto movimento de articulação do TBC no território.
Também foi levantada a importância de outras pautas do FCT para que as comunidades possam de fato implantar iniciativas de TBC, entre elas a questão do território que ainda permanece em disputa em várias comunidades envolvidas na iniciativa. Entre outras questões defendidas pelo Fórum como o debate sobre os impactos, positivos e negativos do turismo nas comunidades, a mobilização de recursos para incentivar o trabalho, a autogestão e a promoção da autonomia em cada lugar.
TBC é identidade cultural
Os presentes retomaram princípios e fundamentos utilizados para implementação do TBC nas experiências práticas locais a partir da leitura em grupo de documento que sistematiza as discussões realizadas ao longo dos dois últimos anos. A partir desses acúmulos foram consensuando questões que fundamentaram a ação da rede. A valorização da cultural, das identidades e do protagonismo foi uma característica fundamental apontada pelos presentes como pano de fundo principal para a Nhandereko.
“A gente não deve mudar nosso jeito de ser por conta do turismo de massa. Devemos sim receber turistas que queiram conhecer nosso modo de vida em cada comunidade, os costumes, tradições do cotidiano”, destaca Guilherme do quilombo da Fazenda de Ubatuba (SP)
“Há de ter o território para manter a cultura e somente assim o TBC é possível”, aponta Erika Braz, colaboradora do Fórum de Comunidades Tradicionais, sobre a importância da manutenção dos valores, manifestações culturais e saberes dos povos e comunidades tradicionais. Segundo ela, cada saber e fazer cultural aprofunda a possibilidade de um turismo que contraponha a lógica do turismo de massa.
Dentro da execução do projeto, as oficinas entre comunitários e parceiros evidenciaram a necessidade da Rede Nhandereko ampliar os momentos de partilha e encontros. A cada atividade coletiva foi possível aprimorar roteiros, partilhar experiências, saberes e fazeres entre caiçaras, indígenas e quilombolas.
Como conhecer esses roteiros e as comunidades?
Durante o processo de criação e fortalecimento da rede, foi identificada a necessidade de qualificar a comercialização, daí surgiu a ideia de fazer isso em conjunto por meio da criação de uma central de comercialização. Essa central tem como objetivo otimizar a venda e facilitar o acesso dos turistas as comunidades.
Enquanto a central não está em atividade, os pacotes e roteiros podem ser comprados diretamente com os guias e lideranças de cada uma das comunidades. Você pode conhecer no Mapa de bolso da Rede clicando no link: MAPA DE BOLSO
Por: Comunicação Popular FCT Texto: Vanessa Cancian Colaboração texto/Revisão: Augusto Santiago Fotos: Eduardo Di Napoli Editoração: Eduardo Di Napoli