Partilha de TBC promove “roteiro-teste” entre comunitários e jipeiros de Paraty
O momento faz parte do trabalho de qualificação e fortalecimento da rede de turismo de base comunitária do FCT.
Na terça-feira, dia 27 de setembro, aconteceu na aldeia Itaxim e no Quilombo do Campinho em Paraty (RJ), um jeeptour desenvolvido como parte da qualificação da rede e ações que envolvem o turismo de base comunitária ligado ao FCT. Em parceria com os Jipeiros Associados de Paraty (JAP), representantes de diversas comunidades do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), técnicos do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) e outros convidados participaram de um “roteiro-teste” que buscou concretizar a parceria entre comunitários e jipeiros que atuam com turismo na localidade.
O roteiro de TBC proposto para o segmento turístico dos jipes que está sendo desenvolvido de maneira coletiva entre comunitários e jipeiros pretende percorrer durante o mesmo dia a aldeia Itaxim e o Quilombo do Campinho. Roda de conversa, artesanato, contação de histórias, culinária tradicional e muito aprendizado compõem a proposta que desenvolve a autonomia das comunidades e ao mesmo tempo consolida parcerias importantes para o turismo.
O ponto de partida da atividade foi dado na praia de Paraty-Mirim. Os jipeiros conduziram os participantes da atividade diretamente para perto do mar, local que possui relevância fundamental na construção histórica da cidade de Paraty. Este local foi, durante o período colonial, uma das entradas do tráfico negreiro e ainda restam ruínas de uma casa de engorda que marcou esse triste momento histórico do Brasil. Conhecido atualmente como Complexo Arquitetonico Ruínas de Paraty-Mirim, esse sítio arqueológico foi tombado em 1966 pelo Instituto Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural.
Em seguida, os participantes foram conduzidos até a aldeia Itaxim, da etnia Guarani Mbya onde as lideranças locais fizeram o receptivo mostrando a comunidade. A língua Guarani nas vozes das crianças que acompanharam o grupo proporcionou um clima especial durante a caminhada até o mirante. Casa de artesanato, casa de reza e uma conversa sobre as tradições e a cultura milenar Guarani fizeram todos os presentes não perceberem a hora passar. Logo após, o grupo seguiu para o Quilombo do Campinho, uma vez que a proposta para esse roteiro que percorre diversas culturas é proporcionar àqueles que estão visitando a dimensão plural e o protagonismo conquistado diariamente pelos povos e comunidades tradicionais que vivem ali.
O Quilombo do Campinho é parte da história de luta e resistência dos povos e comunidades tradicionais no Brasil. Nessa parada, os participantes foram recebidos por uma monitora local que apresentou historicamente a comunidade. Os visitantes almoçaram no restaurante comunitário em meio à paisagem exuberante da Mata Atlântica preservada pelo modo de vida quilombola, onde poderão escolher um cardápio com culinária tradicional que busca fomentar a agricultura agroecológica e a economia solidária da comunidade e região.
No evento, os participantes fizeram uma curta caminhada por dentro da comunidade conhecendo a forma de organização comunitária que destacam a comunidade quilombola, até chegarem à casa de artesanato.
TBC como ferramenta de luta
“Começamos a trabalhar com turismo há seis anos por conta da procura de escolas e universidades”, pontua Ivanildes Kerexu, liderança da aldeia Itaxim. Segundo ela, o turismo é fundamental para multiplicar o conhecimento sobre os povos indígenas combatendo o preconceito e a ignorância. “Para nós é muito importante mostrar de perto a nossa cultura porque se as pessoas não conhecem, elas não valorizam”, completa. A liderança afirma, sobretudo, a importância de mediar a quantidade de pessoas dentro da comunidade e os impactos disso na manutenção da cultura e da língua.
No fim do dia o grupo se reuniu para avaliar pontos positivos, sugerir melhoras e definir um preço justo. O roteiro-teste segue em processo de construção coletiva e promovendo cada vez mais o protagonismo das comunidades tradicionais da região. O TBC fomenta a possibilidade de desconstruir estereótipos sobre a cultura, modo de vida e os saberes ligados ao cotidiano de cada comunidade que vive em luta pela garantia de seus territórios.
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