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Tradições culturais e muita luta marcam festa na aldeia do Rio Pequeno


Preservar é Resistir - Xondaro

Organizado pela comunidade, o evento foi pautado na união e trabalho coletivo como forma de mostrar aos visitantes o que é a cultura guarani nhandewa e os desafios enfrentados pelos povos indígenas.

Realizada entre os dias 8 a 10 de setembro, o Festival Tradicional e Cultural Guarani Nhandewa Tekoa Dje’y foi um evento promovido pela comunidade indígena do Rio Pequeno em Paraty (RJ) com apoio do Fórum de Comunidades Tradicionais por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS). A festa recebeu indígenas de outras comunidades e visitantes que puderam partilhar junto a comunidade que preparou uma programação cultural com diversas atividades.

“Esse festival cultural que fizemos começou no ano passado e tem a finalidade de reunir os povos indígenas e as demais pessoas para que possam também conhecer nossa comunidade”, pontua Neusa Mendonça, uma das lideranças femininas do local. Segundo ela, uma das únicas fontes de renda da comunidade é o artesanato e por isso há a necessidade de desenvolver ferramentas que atraiam mais pessoas gerando outras fontes. “Tivemos a idéia de criar um restaurante coletivo dentro da aldeia com comidas nossas e pratos mesclados com a cultura jruá”, completa.

“Construímos esse restaurante envolvendo toda a comunidade, crianças, jovens, mulheres, idosos. Aqui nós não somos diferentes, somos todos iguais e nossa cultura mostra o quanto somos capaz”, afirma Neusa. A liderança ensina a sabedoria guarani também ao pontuar que o mais necessário é ter coragem, levantar, reagir para fazer com que as coisas aconteçam.

Sonia Mendonça, agente de saúde e integrante do grupo de mulheres que mobilizou o evento na comunidade conta que pensaram também o festejo em busca de melhorar a qualidade de vida das crianças da aldeia. “Trazer mais gente pra cá faz ajuda a melhorar nossa estrada, nossa moradia e nossa saúde. Hoje só compramos na cidade porque não temos terra suficiente para plantar”, conta. Ela relata sobre a dificuldade obtenção de matéria-prima para a produção do artesanato, por isso a importância de fazer com que a comunidade se torne mais conhecida e visitada.

A aldeia do Rio Pequeno também recebe atualmente atividades relacionadas ao desenvolvimento da Agroecologia junto a parceiros locais e técnicos do OTSS como forma de otimizar a produção de alimentos e o cultivo agroecológico.

“É preciso conhecer para respeitar”

“Somos uma comunidade Guarani Nhadewa e viemos do Mato Grosso do Sul”, conta Neusa Mendonça. A comunidade que está na região da Bocaina há 24 anos, ainda não teve seu território demarcado e reconhecido e seguem nesta luta. “Dentro das aldeias nós trabalhamos com o coletivo, sempre. Não existe trabalho individual, mas isso traz a necessidade de muito diálogo porque recebemos as influências externas do povo branco”, diz.

Crianças, jovens e adultos da comunidade apresentaram danças tradicionais durante os dias de realização da festa. “Entendemos que para o povo branco respeitar e valorizar a nossa cultura, precisa conhecer. E nós precisamos transmitir a verdadeira cultura que existe dentro de nós. O ser humano é um bicho complicado, criticamos as pessoas pelo cabelo, pela roupa, aparência, mas não sabemos suas origens, culturas, por isso precisamos mostrar e divulgar a nossa”, completa a liderança.

“Ir para a cidade vender artesanato não traz melhorias para nossa vivência. Precisamos ficar dentro da aldeia, ensinar as crianças a continuação da nossa cultura, as danças, as moradias, conversar um com o outro. Tudo isso é muito importante cuidar da nossa cultura”, destaca Sônia Mendonça.

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