Sob os toques de berimbau e a ginga da capoeira deu-se início nesta quinta-feira, dia 18 de agosto, na sede do Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) em Paraty o encontro marcado para dialogar e construir uma central que agregue as iniciativas de turismo de base comunitária dos territórios tradicionais da Bocaina. A luta pelo território exige, assim como na roda, que se saiba jogar, cair, levantar se esquivar sem perder o equilíbrio.
O desafio das comunidades tradicionais nesses territórios é fortalecer, em contraponto com a lógica do turismo mercadológico, uma nova forma de fazer turismo protagonizado pelos comunitários e em harmonia com as questões socioambientais.
Em sinergia com o momento atual de luta pela garantia da democracia e dos direitos sociais, representantes de comunidades caiçaras, quilombolas, indígenas e parceiros do Fórum de Comunidades Tradicionais de Paraty, Ubatuba e Angra dos Reis estiveram presentes nessa ação de trabalho conjunto. A oficina foi facilitada por Augusto Santiago e Érika Braz e teve como objetivo dar continuidade ao desafio da criação de uma central de comercialização de Turismo de Base Comunitária.
Ampliar as redes de acesso e divulgação, lutar por políticas públicas, conectar roteiros e impulsionar a autonomia das comunidades tradicionais para a prática do turismo de base comunitária são alguns dos objetivos principais da criação dessa central. Estiveram presentes representantes dos três municípios e de diversas comunidades.
Por que fazer Turismo de Base Comunitária?
“Não fazemos isso pelo dinheiro”, destaca Ivanilde Kerexu Pereira da Silva, liderança feminina da aldeia da Paraty-Mirim. “O mais importante é fazer com o que o turista veja de verdade a cultura indígena, porque os jruá sempre nós olha com aquela ideia de 500 anos atrás. Queremos que isso seja multiplicado nos outros lugares, que seja ensinado nas escolas”, completa.
A atividade pontuou os diversos desafios para a criação de uma rede que fortaleça e amplie o turismo de base comunitária dentre as comunidades tradicionais do FCT. “Todo mundo tem o mesmo propósito, mas cada um dentro da sua individualidade. Para fortalecer o TBC eu acredito que devemos primeiro arrumar a casa, alinhar os objetivos”, destacou Pâmela Daniele Albrecht, da comunidade de Trindade (Paraty,RJ).
“A proposta dessa oficina é fazer também com que cada participante possa ampliar esse debate dentro de suas comunidades, fazendo com que mais ideias, propostas e sugestões sejam trazidas para a construção da central”, salientou Fábio Reis, pesquisador do OTSS. Estabelecer um processo inclusivo para sua criação é um dos maiores desafios, mas o potencial turístico da região e a riqueza cultural das comunidades ampliam as possibilidades e tem gerado boas perspectivas.
Espaços que se diferem do mundo
“Nós estamos aptos a mostrar as raridades de modelo de sociedade que existe em nossas comunidades. As pessoas vão procurar porque quem tem isso somos nós”, diz Sinei Barreiros Martins. “Precisamos trabalhar a autoestima da comunidades, quilombola, caiçara e indígena pois são espaços que se diferem do mundo. Trabalhar com essa resistência que não é vista e nada melhor do que nós mesmos pra construir isso da forma que queremos”, ressaltou o comunitário.
Segundo Ivalnildes Kerexu, fazer turismo dentro da comunidade, receber escolas, universidades e grupos é um trabalho de fortalecimento da identidade indígena para aqueles que ainda vivem com a venda da ignorância. “Apesar de usarmos roupas, celular e sapatos, falamos nossa língua, fazemos nossas danças, temos nossa casa de reza e a nossa religião e é isso que o turismo deve ver e sentir ao estar dentro da aldeia”, pontua.
Ao final do encontro foi definida uma agenda de trabalho para se avançar na pesquisa e compreensão das diferentes estratégias que já tem sido utilizadas por coletivos como a “Rede Tucum”, bem como para modelos de negócios adequados.
Fotos: Comunicação FCT