Alexandro Kuaray Mirim, representante do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) foi um dos jovens que participou do encontro com lideranças de diversas partes do Brasil.

Na histórica tenda construída para a realização da Eco92, 15 jovens brasileiros com histórico de protagonismo social foram convidados a um encontro com representantes da ONU na segunda-feira, dia 15 de agosto de 2016 para debater os rumos da Agenda 2030. O evento foi realizado pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) em parceria com a Fiocruz e contou também com cerca de 200 jovens que lotaram o espaço para participar do momento.
Antes dos pronunciamentos oficiais, o grupo Dream Team do Passinho, abriu a tarde de evento mostrando o trabalho de música e dança desenvolvido por jovens de diversas favelas cariocas. Usando o funk e outros ritmos como linguagem, empoderamento feminino negro, racismo, e muita consciência fazem parte do trabalho do grupo começou com muita energia junto a juventude guerreira.
Os representantes da ONU e as autoridades presentes pontuaram a relevância do encontro para o marco da Agenda 2030, estabelecida no ano passado e que criou diretrizes em busca da construção de uma sociedade global mais sustentável dentro dos próximos anos. A aposta e os desafios dessa agenda estão aliados com o trabalho social dos jovens escolhidos para estar nesse encontro. “Nós acreditamos na necessidade da criação de espaços como este para que os jovens sejam chamados a executar um papel fundamental de atingir as metas da Agenda 2030.E temos que trabalhar junto para converter esse modelo em uma realidade”, destaca Niky Fabiancic, coordenador das Nações Unidas no Brasil.
Democracia e igualdade
Com microfones em mãos, a juventude presente falou sem papas na língua. “O que é juventude? Quais os jovens que não estão neste espaço? Esses outros estão nas bordas, nas margens, em um sistema racista, machista e homofóbico, ou nas ocupações das escolas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Não da pra falar de juventude sem falar da Marcha do Empoderamento Crespo, sem falar das mulheres que ocupam do campo a cidade e que insistem e resistem. Não dá pra falar de juventude em um país que vive uma ruptura democrática”, salientou Daniel Souza, Presidente do Conselho Nacional de Juventude.
Souza também pontuou que discutir ao desenvolvimento entre jovens líderes é preciso saber também que tipo de desenvolvimento se está buscando. “Não queremos imposições de cima pra baixo, sem consulta popular”, completou. Assim como outros jovens, suas falas dialogaram sobretudo com o cenário político atual e a grave perda de direitos humanos.

Luta por igualdade de direitos e combate ao racismo velado
Como discutir o acesso ao esporte e as políticas públicas para os jovens enquanto o direito à vida lhes é cerceado? Grande parte dos jovens presentes era negra e dois indígenas. O rumo dos projetos protagonizados por eles dialoga diretamente com a luta no combate ao racismo que existe no Brasil. A desigualdade numérica ainda alarmante e a morte frequente de jovens negros nas periferias e o extermínio com as populações indígenas foi colocada em pauta.
“No Brasil as desigualdades sociais ainda são negadas e o mito da democracia racial se consolidou de maneira hipócrita, visa a manutenção deste sistema vigente”, salientou Luislinda Valois, atual Secretária Nacional de Políticas e Promoção da Igualdade Racial.
Ela evidenciou em sua fala o desproporcional acesso a educação e oportunidades de trabalho para o povo negro. “O mercado é seletivo e cruel. Estamos sempre ao lado com a vassoura e o pano de chão e não queremos mais isso, queremos as canetas para decidirmos o destino do Brasil e o nosso”, completa.
“Nossa juventude não tem o direito de viver pelo simples fato de não ter seu território assegurado”, disse Dinamam Tuxá, liderança indígena da comunidade Tuxá da Bahia. Sua fala alertou para o fato de que a sociedade não indígena ainda enxerga-los como seres mitológicos e intocados nas florestas. “Quando na verdade, é o contrário disso, nós buscamos o equilíbrio da natureza para aqueles que vivem na cidade desfrutar. Quem usufrui dos nossos saberes? Quem são beneficiados pelas nossas matas preservadas?”, questionou.
Tuxá afirmou a urgência e a necessidade de tornar sabido e chegar ao conhecimento da população brasileira genocídio indígena que acontece diariamente. “Quando estamos em lugares como este temos que passar o recado. Nosso povo está sendo assassinado. Madeireiro não quer madeira em pé, garimpeiro não quer solo preservado, quer minério. Nós somos resistentes e iremos resistir ate o ultimo indígena, ate o ultimo negro ou quilombola. Aqui no Brasil os povos indígenas são refugiados”.
“Dentro do nosso trabalho com o Fórum das Comunidades Tradicionais (FCT) e o OTSS, com apoio da Fiocruz, estamos lutando para que sejamos reconhecidos pela sociedade com os nossos trabalhos e a nossa cultura”, destacou Alexandro Kuaray Mirim, liderança indígena de Paraty-Mirim que representou os povos tradicionais da Bocaina no evento. Kuaray Mirim destacou em sua fala também a necessidade da luta contra o golpe democrático que se vive hoje no país.
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Texto: Comunicação FCT
Fotos: UNIC - Rio - Matheus Otanari
Vídeo: Reprodução YouTube - ONU