“Nossos líderes são assassinados. Nós mulheres somos violentadas pelos pistoleiros. Somos mortos e jogados na beira da estrada. E passa na imprensa que fomos encontrados mortos na beira da estrada como animais, mas nós somos mortos pela nossa terra. Estamos muito tristes hoje porque lá na minha aldeia, só da minha família, já passam de 15 pessoas mortas. Muitos caciques que estavam aqui conosco foram mortos, assassinados, desde que eu tinha oito anos, e nenhum foi para a justiça. (...) Estamos aqui hoje de luto, tristes, demarcando esta terra aqui, esta terra aqui que é nossa, nós estamos demarcando com o nosso sangue! Estamos demarcando com o nosso sangue.”
Liderança indígena Guarani-Kaiowá, na terra indígena de Ñanderu Marangatu, diante do túmulo do líder Semião Vilhalva, assassinado no dia 26 de agosto de 2015, no município de Antonio João – MS, Brasil.
Chega de “demarcar” as terras só com túmulos de indígenas! Que o Estado Brasileiro demarque o que homologou há mais de 10 anos e dê um basta na impunidade e conivência com os assassinos de indígenas.
O Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba repudia imensamente o massacre cruel e impune em curso contra os povos Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Para cada companheiro tombado, nenhum minuto de silêncio, mas todas nossas vidas em luta!
Essas terras indígenas foram homologadas pela Presidência da República em 2005, mas devido a efeitos de suspensão o trâmite está parado. Enquanto isso, os grupos concentradores de capital e manipuladores de forças estatais e judiciárias seguem massacrando impunemente os povos Guarani e Kaiowá, ameaçando, aterrorizando, atacando as comunidades com pistoleiros, violentando mulheres e assassinando lideranças. Nossos irmãos indígenas corajosamente seguem lutando pelo seu território sagrado.
São os povos originários! Mais do que qualquer pessoa ou grupo, têm o direito de permanecer e preservar seu modo de vida. Preservar os territórios, povos e modos de vida tradicionais é indispensável para que a civilização mundial tenha chance de encontrar uma alternativa para o modelo civilizatório contemporâneo, hegemonicamente capitalista e em uma crise de sustentabilidade cada vez mais aguda e evidente.
Mas além do óbvio direito moral e da necessidade histórica, o próprio Estado Brasileiro reconheceu este direito dos povos Guarani e Kaiowá homologando estas terras indígenas em 2005. Porém, os concentradores de capital não se movem por justiça, e sim pela manutenção covarde e cruel de seus privilégios, construídos e mantidos diariamente com violência brutal e impune.
Cenas do massacre impune em curso
Alguns fatos deste massacre que seguem impunes, relatados pelo líder Avá Verá Arandú, do povo Kaiowá-Guarani – mestre, doutor e pós-doutorando em antropologia no Museu Nacional da UFRJ:
“Em 2000, na terra indígena Potrero Guasu, em Paranhos (MS), uma terra indígena que já é demarcada, mais de 100 pistoleiros fortemente armados atacaram e massacraram as crianças, mulheres, idosos indígenas Guarani Kaiowá. Esses pistoleiros fraturaram as pernas e os braços das crianças e mulheres idosas. Queimaram todas as habitações indígenas e expulsaram todos os indígenas. Foi cometido o massacre, genocídio e violências pelos fazendeiros contra os indígenas, um genocídio promovido pelos fazendeiros e políticos anti-indígenas. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Em 2001, na terra indígena Ka’a Jary, em Amambai (MS), o líder Samuel Martim foi assassinado com um tiro no peito pelos pistoleiros dos fazendeiros. As crianças, idosos, mulheres, Guarani e Kaiowá foram atacadas, torturadas e despejadas violentamente pelos 100 homens fortemente armados. Os pistoleiros fraturaram as pernas e os braços das crianças, mulheres idosas. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Em 2003, na terra indígena Takuara-Juti (MS), fazendeiros assassinaram a liderança Marco Verón. Nesse mesmo ataque, crianças, idosos e mulheres Guarani e Kaiowá foram atacadas, queimadas, torturadas e despejadas violentamente por mais de 50 homens fortemente armados. Mas até hoje os assassinos de Marco Veron e os mandantes não foram condenados como assassinos pela Justiça Federal e nem punidos.
Em 2003, no tekohá Pyelito e Mbarakay mais de 100 pistoleiros fortemente armados atacaram e massacraram as crianças, mulheres, idosos indígenas Guarani Kaiowá. Esses pistoleiros fraturaram as pernas e os braços das crianças, mulheres idosas. Queimaram todas as habitações indígenas e expulsaram todos os indígenas. Foi assassinado um jovem indígena e seu cadáver ocultado. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje. O corpo ainda não foi encontrado.
Em 2005, a comunidade da terra indígena tekohá Sombrerito, em Sete Quedas (MS) foi atacada, casas queimadas, pessoas torturadas e despejadas violentamente por mais de 40 pistoleiros, todos eles homens fortemente armados. Nesse ataque, a liderança indígena Dorival Benites foi assassinado brutalmente pelos fazendeiros. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Em 2007, na terra indígena tekohá Kurusu Amba os pistoleiros das fazendas atacaram a tiros, dominaram e torturaram crianças, mulheres, idosos, mataram a tiros idosa de 70 anos ñandesy Xurite Lopes. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Em 2008, o grupo de pistoleiros armados atacaram e massacraram a comunidade detekohá Itay-Douradina. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Em 2009, na terra indígena tekohá Ypo’i, em Paranhos (MS), os fazendeiros e mais de 100 pistoleiros atacaram, torturaram 80 Guarani e Kaiowá e assassinaram dois líderes indígenas e ocultaram os seus cadáveres: Rolindo Verá e Genivaldo Verá. O cadáver de Rolindo até hoje não foi encontrado e segue ocultado pelos fazendeiros, portanto, um crime continuado. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Também em 2009, pistoleiros atacaram a comunidade de Apyka’i, em Dourados (MS), e crianças e idosos foram igualmente atacados, casas queimadas, pessoas torturadas e despejadas violentamente por pistoleiros fortemente armados. Na sequência desse ataque, cinco indígenas foram assassinados pelos pistoleiros das fazendas. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Em 2011, crianças, mulheres e idosos de tekohá Pyelito kue-Mbarakay, em Iguatemi (MS) foram atacadas, massacradas e expulsas pelos pistoleiros da empresa de segurança Gaspem, parte desse grupo criminoso organizado. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
No dia 18 de novembro de 2011, na terra indígena Guaiviry, em Aral Moreira (MS), que fica entre as cidades de Amambai e Ponta Porã, crianças, mulheres, homens, idosos indígenas foram atacados e torturados pelos pistoleiros das fazendas. Nesse ataque, o líder Nísio Gomes foi brutalmente assassinado e seu cadáver ocultado pelo grupo armado. O cadáver do cacique Nísio permanece oculto pelos fazendeiros até hoje, ou seja, um crime continuado. Os mandantes e autores não foram punidos pela Justiça Federal até hoje.
Como mencionei antes, no dia 29 de agosto de 2015, na terra indígena Ñanderu Marangatu, em Antônio João (MS), crianças, mulheres, homens, idosos indígenas foram atacados e torturados pelos pistoleiros das fazendas. Nesse ataque, o líder Semião Vilharva foi brutalmente assassinado pelos pistoleiros das fazendas, com um tiro no seu rosto, ao lado de seu filho. Por enquanto, nenhuma punição ou investigação apontando os autores.”
BASTA! DEMARCAÇÃO E PUNIÇÃO AOS ASSASSINOS JÁ!
Fotos: Divulgação Internet (Google Imagens)